Milagres de Jesus

Há muitas curas (exorcismo, mulher sogra de Pedro, lepra, paralisia, mão seca, multidões), relatos de chamados (em número de 3: dos primeiros discípulos, de Levi e a instituição dos doze). Existe também uma mobilidade de Jesus e de atos: ora ele está na beira do lago, ora nas estradas, ora ele está à mesa ou na sinagoga. Neste bloco também encontramos confrontos de Jesus (vários: no exorcismo, nas curas do leproso, paralítico, homem da mão seca, com a família, além dos debates com escribas e fariseus). Cada atuação de Jesus produz confronto, basicamente, com escribas e fariseus – autoridades político-religiosas. Esses fatos estão em consonância com o início do bloco (Mc 1, 14-15), que trata do anúncio do Reino. Ora, em todos os atos de Jesus e nos fatos percebe-se uma necessidade de transformação. Obviamente isso pressupõe conflitos, curas, seguimento etc. Um dos aspectos fundamentais do Reino, nesse bloco, é que a presença do Reino provoca uma transformação profunda. A mensagem de Deus atinge as pessoas em sua totalidade. O Reino de Deus se manifesta quando as pessoas são atingidas e transformadas naquilo que elas têm de mais frágil. O Reino, no fundo, é a transformação da realidade concreta das pessoas. Acontece dentro dos âmbitos pequenos, onde nós vivemos. Prova disso são os milagres e ensinamentos de Jesus.

Sinais do Reino

Um sinal concreto do Reino é o chamado. Trata-se de um chamamento para formar comunidade alternativa – que será sinal concreto do Reino. Jesus chama seus discípulos para o seguirem e pescarem homens. Há uma dimensão de seguimento e outra de missionariedade. O aspecto da formação de uma comunidade é essencial. Note-se que para formar comunidade, precisamos ter critério. Jesus olhou, chamou trabalhadores, rejeitados (Levi), pobres-pequenos. O chamado tem a ver com perceber pessoas que tenham sensibilidade para o Reino.

A novidade do Reino incomoda, faz emergir conflitos nas mais diferentes esferas das relações (Igreja, política, cultura, família etc.).

Jesus é um homem de movimento: na sinagoga, nas casas, nas estradas, no mar. Todos esses lugares são ambientes de encontro. Há uma mobilidade que possibilita encontros com todas as pessoas, sobretudo às necessitadas.

O kairós de que fala o evangelho é o momento oportuno, o tempo agradável de possibilidades.

Chamado

Por que Jesus chama pesadores e os torna de homens? O ofício de pescador é uma classe artesã, autônoma, distingue-se dos diaristas. Jesus exige uma reorganização das relações sócio econômica. Chama para inserir os discípulos numa prática social alternativa. Ao assumir o discipulado, Jesus rompe com a ordem do mundo. A sociedade que Jesus constitui vai ser um questionamento à ordem estabelecida.

O exorcismo de Jesus, no fundo, é uma luta entre autoridades: por um lado a do messias, por outro a dos escribas.

Jesus se mobiliza da sinagoga para Cafarnaum. Trata-se de uma dialética entre o público e privado.

Doenças no tempo de Jesus eram fruto da deterioração econômica e política. A doença fazia parte do ciclo de pobreza. No pensamento judaico, a enfermidade estava associada à impureza ou ao pecado. Isso intensificava a exclusão da participação social. Jesus responde às pessoas necessitadas. Curava os pobres. Seus milagres não eram universalmente aceitos, exatamente porque as curas significavam uma reintegração das pessoas na sociedade. Também era um sinal de questionamento para os dirigentes políticos e religiosos que excluíam os pobres. A lepra, por exemplo, era resultado da inércia política. Jesus se coloca contra a ordem simbólica da pureza e da impureza, da qual as pessoas eram vítimas. 

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Sival Soares, 29 de abril de 2011