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Jesus no Horto

Jesus no Horto

Estrutura básica dos textos

Jesus chega ao lugar (horto e monte das oliveiras); pede para orar e vigiar; vai ficar a sós diante de Deus; volta e encontra os discípulos dormindo; Jesus anuncia que é chegada sua hora. O centro da narrativa, como se percebe, está no ato de Jesus ficar só diante de Deus. Chama-nos atenção também o contraste – que perdura durante as narrativas – entre essa atitude de Jesus e a dos discípulos que estão dormindo.

Semelhanças e diferenças

Mt, Lc e Mc colocam em lugares comuns os acontecimentos. Mas Lc chama o Horto de Monte das Oliveiras. No primeiro versículo Jesus vai entrando no Getsemâni. Em Mc e Mt Jesus pede para os discípulos sentarem, inicialmente. Lc já vai logo pedindo para que “orai, para não caírem em tentação”. Mc e Mt dirão que Jesus estava apavorado e começou a angustiar-se e caiu por terrar. Lc diz que Jesus se ajoelha (não fala de angústia, inicialmente). Tanto Mc como Mt, logo no início da narrativa fala que Jesus está apavorado (Mc), entristecido (Mt) e com muita angústia. Lc coloca a angústia como algo que conduz à oração. Obviamente, os dois primeiros evangelistas revelam mais a humanidade de Jesus. Lc o coloca como “homem de fé”. Esse evangelista quer apresentar o Cristo como Justo, que está sempre diante de Deus.

Todos os evangelistas falam do “cálice”, símbolo da ceia. Em Mt e Mc fala-se de afastamento. Em Lc a linguagem gira em torno do “faça-se a tua vontade”. Ademais, Lc coloca um anjo na narrativa. Em Mc e Mt, Jesus vai e volta três vezes (e os discípulos dormem). Em Lc Jesus vai uma vez, volta, encontra os discípulos dormindo... e segue a narrativa finalizando-a dizendo que Jesus suava sangue. Outro elemento interessante é que nesse texto Jesus não censura os discípulos. Lc ainda insiste em dizer para os discípulos levantarem e orarem...

Nos três casos Jesus pede para que os discípulos vigiem. Na hora da angústia é preciso vigiar para não entrar em tentação (de desistir). No final, Jesus resolve enfrentar. Pede para que os discípulos levantem, diz que sua hora chegou, que o traidor se aproxima...

Teologia dos evangelistas

Para Marcos...

Esse evangelista relata, superficialmente, o infligimento dos homens a Jesus. Jesus enfrentou as autoridades e por isso foi perseguido. No nível profundo, esse acontecimento revela o que Jesus enfrentou em seu interior. E o que era e o que não era o Projeto de Deus. Temos cinco ditos: quatro dirigidos aos discípulos (no presente) e um ao Pai. Usa expressões como: Permanecei aqui e vigiai... (14, 34); Vigiai... e para se dirigir a Deus usa o verbo no imperfeito: Dizia...

A tríplice oração relata o caráter dramático da oração de Jesus; o tríplice adormecimento dos discípulos manifesta sua incapacidade de compreensão; a tríplice andar e vir de Jesus expressa sua incontrolável inquietação e angústia. Neste último caso, há uma dimensão humana...

Getsêmani, em hebraico significa “prensa dos óleos”. Jesus se fasta para a solidão (Cf. Mc 1, 35; 6 46). Começa a apavorar-se e angustiar-se. Jesus se atormenta, fica ansioso, solitário. Jesus diz que sua alma está triste até a morte (14,34). Sentimentos próprios dos salmos (42, 5-6.12; 43,5)... Pede também para permanecerem ali e vigiar... (14, 34b). O convite lembra o livro do Êxodo, com a noite da vigília com o Senhor, em vista da libertação. Chama atenção o silencio dos discípulos e a solidão de Jesus.

Ele cai por terra (14,35), sente-se amedrontado, impotente. Sua oração pede para que essa hora seja passada, que seja cumprido o destino messiânico (os judeus assim rezam na hora da morte). A oração de Jesus tem quatro partes: invocação ao pai (abbá), sua profissão de fé, suplica, e a aceitação da vontade divina.

Jesus é rejeitado pelos homens, mas o Cálice vem das mãos de Deus.

Dirigindo-se aos discípulos... pergunta por que não foram capazes de vigiar uma hora... O verbo “capaz” significa também a fortaleza de ânimo... O mandamento vigiar significa atenção espiritual, prontidão, resistência. O sono dos discípulos é sinal de ausência, de falta de resistência, de capacidade para compreenderem aquele momento.

Jesus fala de tentação. Trata-se de uma prova... Os discípulos passarão por tentações. A oração é receitada para que vençam, assumam a prova.

Na antropologia hebraica, corpo e alma revelam duas tendências... carne é o homem inteiro, captado em sua fragilidade e fraqueza. O espírito é sempre o todo do homem, ligado a Deus. Então, quando Jesus diz que a carne é graça (14, 38), refere-se a esse dado antropológico.

Alerta, diante do sono de Jesus, que o filho do homem via ser entregue. Jesus mesmo se entrega... Deus permite sua entrega... não judas que o denuncia. O protagonista escondido é Deus. No final do texto de Marcos, Jesus não é mais o angustiado e aturdido do início da narrativa. Seu Levantai-vos e Vamos... indica que o messias encontrou novamente sua serenidade... Retomou em suas mãos a situação. Obviamente, foi fortalecido pelo próprio Deus.

Mateus...

Focaliza mais a tensão entre Jesus e o Pai. Mt substitui a palavra “petrificado” por tristeza. Significa a tristeza dos discípulos ao se falar da paixão. Eles não compreendiam o reino. Em Mt a angústia de Jesus começou, ou seja, inicia sua hora.

Jesus reza para que a vontade de Deus seja realizada. Na oração, Jesus prostra com o rosto por terra, fala “meu pai” (consciência de proximidade, de filiação) e se põe como servo.

Jesus se submete à prova... Tentativa de afastamento do projeto messiânico, do projeto de Deus. Pede, também, para que vigiem... Jesus se liga aos discípulos ao pedir que vigiem com ele. Orai, também... No Getsêmini, Jesus supera vitoriosamente o momento decisivo de sua prova. Essa será a proposta da Igreja.

Lucas...

Só tem 26 % das palavras em comum com os outros evangelhos. Não fala da angústia da mesma forma. Omite a fórmula “minha alma está triste até a morte”... Acrescenta o anjo e põe na boca de Jesus uma oração mais forte e insistente, a ponto de suar sangue. Jesus reza de joelhos dobrado. Nesse evangelista, os discípulos adormecem de tristeza. Para ele, Jesus não chama atenção dos discípulos por dormirem, mas o evangelista procura desculpá-los.

Síntese

Jesus é o único que fala e age. Expressa a própria angústia, reza, interroga e dá ordem. Ao redor dele, tudo é silêncio. Getsêmani é uma epifania: nesse lugar, aprofunda-se a humanidade do filho de Deus. A encarnação é um abaixamento antes de ser uma elevação. Jesus partilha da condição humana. Ele revela, assim, ser filho na obediência e na fé nua. Invoca a Deus com ternura: abbá.

Há uma tensão entre Jesus e os discípulos: ambos experimentam o pavor. Mas Jesus vigia e permanece fiel. Os discípulos dormem: estão despreparados para partilhar a provação do seu mestre. A grande diferença está na vigilância e na oração de Jesus. Ambas juntas. Há uma tensão entre Jesus e o Pai. Aquele confidencia sua intimidade a este. Reconhece a paternidade e a potência de Deus, chama-o de paizinho. Jesus revive, no Getsêmani, as angústias dos grandes crentes de Israel. A possibilidade da superação da angústia não reside na supressão da cruz, mas no enfrentamento e fidelidade ao projeto. Para isso é necessária à força interior (advinda da oração), reavivar as energias para melhor enfrentar, com serenidade e coragem, os problemas.

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Sival Soares, em 29 de abril de 2011 




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