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Morte de Jesus

Morte de Jesus

Narrativas

As narrativas foram construídas a partir de uma ótica teológica. Há dados históricos, mas deve-se considerar que são narrativas. O objetivo das narrativas é fazer um confronto entre o Justo de Deus e a trama, a injustiça dos poderes religiosos e político que assassinam Jesus. Isso com relação à aula passada. No fundo, o evangelho é um projeto de vida que desmascara de maneira radical a violência da sociedade. Justamente na morte de Jesus vemos a revelação da justiça, do amor de Deus, um projeto de vida para seus seguidores etc. O mundo não tolera o justo.

Morte de Jesus (Mc 15,33-41; Mt 27,45-56; Lc 23,44-49)

A salvação é um caminho, um projeto. Na cruz, temos a possibilidade de vivermos de outra maneira.

A estrutura

Mc, 14, 24s apresenta a gozação que fazem contra Jesus. Narra a crucificação, o sorteio das vestes, a presença dos ladrões, a gozação dos transeuntes, dos chefes dos sacerdotes... O mesmo faz Mt 27, 33s: apresenta a Golgota, dão de beber vinho com fel a Jesus, repartem-se as vestes, tira-se a sorte, coloca-se a coroa e o escrito, apresenta os ladrões... e ainda, mais uma vez, há a gozação dos transeuntes e dos chefes dos sacerdotes, além dos escribas. Até os ladrões insultavam Jesus. Lc (23,40s) é mais delicado: coloca Jesus perdoando os que não sabiam o que faziam. Há repartição das vestes e zombação dos chefes judaicos, dos soldados... deram vinagre a Jesus e colocaram a inscrição sobre o Rei dos Judeus. Também um dos ladrões zomba, embora o outro tenha uma postura diferente. A este Jesus promete o paraíso. Como vimos, nos três evangelhos há uma estrutura, muito semelhante em Mc e Mt e um pouco diferente em Lc – que enfatiza o tema da misericórdia no diálogo com os ladrões.

Motivos das gozações/injúrias contra Jesus

Estão ligados ao fato de Jesus ter se considerado rei (motivo político) e messias (motivo religioso). A zombaria convida o rei a descer da cruz... Curar-se a si mesmo... No fundo, os interlocutores de Jesus querem espetáculo, já que Jesus salvou a outros, então poderia salvar-se a si mesmo. Ora, aqui tem uma teologia: a salvação dirige-se a outros, não a si mesmo. Somos convidados a sermos pescadores de homens. Algo muito incomum hoje, cuja satisfação do eu é a marca dos nossos tempos.

A crucificação acontecia em dois tempos: as mãos e os braços do condenado eram presos horizontalmente. Não existe a cruz carregada como nós pensamos hoje. Os sinóticos não falam que Jesus fora pregado, mas marrado; em seguida, era içado no poste vertical. O condenado morria lentamente, sufocado pelo sofrimento e em plena lucidez. Para apressar a morte, podiam-se quebrar as pernas. Os soldados faziam isso. Essa morte ocorria fora dos muros da cidade, em lugar próximo e público. Previa-se, juridicamente, que se escrevesse o motivo da morte de Jesus; a condenação de Jesus foi por motivos políticos. Ele se dizia rei dos judeus.

Os antigos conheciam o efeito da mirra com vinho, que era anestésico. Jesus recusa. Opta por morrer em plena lucidez.

Jesus, em sua solidão, na hora da morte, se sente absolutamente abandonado. Cireneu, aquele, foi forçado a ajuda-lo. Estava só. No final da narrativa, apresentam-se as mulheres ao longe, olhando Jesus. Mc inicia a narrativa com Sirineu e termina com as mulheres ausentes.

Mas... Deus intervém. Mas Jesus se sente abandonado: Eli, Eli, Lamah sabaktan (Sl 22). Obviamente Jesus não falou isso. Mas a teologia presente aqui é que nos momentos decisivos da vida, estamos sozinhos. Essa é a marca da nossa humanidade. No caminho de Deus faremos a experiência da solidão. Lc coloca a expressão: Pai, em tuas mãos entrego meu espírito (Sl 31), típica de quem está falando para uma cultura helenística. Evoca a confiança de Jesus em Javé. Foram muitos os insultos, dos ladrões... A solidão de Jesus é total.

Os personagens

Jesus é o sujeito. As zombarias dirigiam-se a eles. Tinham pessoas que falavam muito. Jesus fala pouquíssimo: grita na hora do abandono e na hora da morte. Deus não abandona: o véu do templo de rasga, a terra treme e o centurião confessa: “verdadeiramente, este era o filho de Deus”. Com o véu do templo rasgado, acaba-se a liturgia do templo (na hora sexta e nona), surge a nova liturgia: o mistério de Jesus. Todos têm acesso à pessoa de Jesus. A verdadeira liturgia se realiza no calvário, não mais no templo. Com o fato de não salvar-se a si mesmo é a verdade de Jesus. Ele fez da cruz o lugar mais denso da revelação; entregou-se totalmente ao Senhor salvando os outros. Jesus salva aos outros ao não salvar-se a si... Isso significa sua livre doação, sua generosidade no amor.

A comunidade cristã percebeu a novidade do messianismo de Jesus, mantendo-a na continuidade da Tradição. Jesus é aquele que realiza as escrituras. No fundo, a comunidade percebe que Ele continua a tradição das Escrituras: está na companhia dos justos e profetas.

O grito de morte evoca que o filho de Deus partilha da humanidade dos seres humanos: suspira pela última vez. Aqui temos a profunda humanidade de Cristo. As trevas, na hora da morte, simbolizam o dia de Javé, o dia da entrega e do amor que vai até o fim. Sobre a cruz, não há castigo, mas amor divino sem medida. O véu do templo manifesta a força vitoriosa da cruz. Rasga-se em duas partes; emerge um novo tempo: o Templo acabou, abre-se uma nova perspectiva. Com a cruz todos podem ter livre acesso ao Senhor. Quem reconhece Jesus é um centurião (cf. Mc 15,39), um não-judeu, estrangeiro, um pagão. O grupo das mulheres, ao longe, não exprime palavras. Há somente a presença. Segundo os evangelhos, elas seguiam Jesus, desde a Galileia (Mc 15,41). Elas farão a ligação entre o acontecimento da cruz e da ressurreição; e entre os discípulos que abandonaram Jesus crucificado e o Jesus ressuscitado que quer reuni-los novamente (Mc 16,1-8). As mulheres dão continuidade ao testemunho de Jesus nos momentos decisivos: na cruz, na sepultura e na ressurreição. Os verbos que definem o discipulado feminino são: seguir, servir, olhar. Este último caracteriza especialmente as mulheres.

O significado da cruz

Ela revela quem é Deus. A ressurreição confirma a verdade da cruz. Quem quiser seguir a Cristo, deve toma-la. O filho de Deus escolheu, para salvar os homens, o caminho do amor, da cruz.

Os túmulos se abrem (cf. Mc 27,52), afirma o evangelista. Trata-se de uma antecipação da ressurreição dos mortos. A cruz é uma teofania. Os sinais que seguem a morte de Jesus revelam o poder de Deus. Temos aqui o advento dum mundo novo. A grande profecia é Jesus crucificado. 

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Sival Soares, em 29 de abril de 2011 




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