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O que é evangelho

O que é evangelho

Evangelhos

A palavra euaggelion, em seu contexto originário, era uma recompensa pela transmissão da Boa Nova. O mensageiro levava, de cidade em cidade, a boa nova. Normalmente anunciavam-se a vitória militar, as vitórias políticas etc.

No Antigo Testamento, o verbo euangelízesthai, do hebraico, bissar, significava proclamar a boa nova de salvação (cf. Is, 40,9; 52,7). Para Isaías, significava a vinda do Reino de Deus (justiça, paz, libertação). Boa Notícia é Deus que entra na história e liberta-a. Isaias proclama o fim da escravidão. Sua mensagem está ligada ao reestabelecimento do que Deus quer – justiça, paz, libertação.

No tempo de Jesus, o Império proclamava seu evangelho; as comunidades cristãs proclamavam um outro evangelho, uma espécie de contra evangelho.  

Paulo proclama a Boa nova de salvação. Se autoproclama escolhido para proclamar o Evangelho de Deus (cf. Rm 1,1ss; 1Cor, 15, 1ss). O apóstolo identifica a verdadeira boa nova como aquela trazida por Jesus. No começo do século 2 usou-se pela primeira vez a palavra evangelho no plural: tornou-se sinônimo dos escritos sobre as ações e ensinamentos de Jesus. Até o Séc. 3 a palavra evangelista não estava ligada a autores de textos. O verbo evangelizar aparece 54 vezes; o substantivo evangelho aparece 7 vezes.

Há três momentos do Evangelho: a) Jesus anuncia o evangelho de Deus (cf. Mc 14-15; Lc 4,18-19); b) os discípulos anunciam o evangelho de Jesus (Kerigma); c) Marcos escreve um evangelho.

Jesus anuncia o Evangelho do Reino; depois os discípulos anunciam o evangelho de Jesus. Note-se que há diferenças: pode acontecer de o ser humano (sobretudo hoje) se relacionar com Jesus sem falar do reino. Só tem sentido anunciar Jesus se não houver desvinculação entre Ele e o reino. Quem abraça Jesus também abraça o reino. No fundo, o reino de Deus é uma organização do mundo conforme o projeto divino. Isso implica incidir na economia, na política, nas relações sociais, na ideologia etc. Evidentemente, na época de Jesus, ao pregá-lo, os discípulos não deixavam de lado o Reino. O anúncio do Kerigma implicava no anúncio do Reino. A comunidade dos discípulos vivenciava, em seu interior, o Reino. O terceiro momento é quando o evangelho passa a ser um evangelho. Em verdade, é quando Jesus se identifica com “a” Boa Notícia por excelência. Neste sentido, O evangelho de Deus é Jesus.

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Houve primeiro o ensinamento oral de Jesus (parábolas, milagres, narrativas e ditos). O povo ia contando essas histórias. Marcos reúne tudo isso e narra um evangelho, reunindo nele as parábolas, milagres e narrativas. Marcos é a primeira fonte.

Os ditos de Jesus estão na fonte Q (apesar de não termos acesso a ela hoje). Mateus e Lucas se servem de Marcos e da Fonte Q – e outras fontes que não se sabe qual. Há uma fonte própria para Mateus e outra para Lucas. João toma outro referencial.

Os evangelhos se constroem assim. Por trás de cada narrativa tem um grupo, uma comunidade.

Evangelho Escrito

Os evangelhos não são obras biográficas, nem literatura de memória. O objetivo não é celebrar Jesus como o maior. Ao contrário: visam suscitar e fortalecer a fé. Os evangelhos mostram o fundamento da fé da comunidade em Jesus, proporcionam aos missionários um substrato para pregação, catequese e para lidar com adversários (sobretudo quando se discutia os temas da cruz, da ressurreição etc.). Além disso, os evangelhos eram lidos em assembleia. Eram uma propaganda missionária.

Jesus, por mais ou menos 3 anos, prega e atua. Foi seguido por um grupo relativamente insignificante. Aos poucos os discípulos dão forma aos relatos e aos atos de Jesus. Isso se dá na medida em que os discípulos vão pregando. Num terceiro momento, os autores reúnem os blocos (das parábolas, milagres, ditos) e compilam o evangelho. Note-se que a fé precede o evangelho. É por ela que se reconhece a intervenção de Deus no homem Jesus de Nazaré. Como isso acontecia?  O anúncio de Jesus acontecia através da atividade litúrgica (cf. At 2,42) onde se lia e reinterpretava as escrituras; acontecia na partilha, na proclamação e missão (cf. At 4,20). Assim a fé no ressuscitado se propaga em Jerusalém, na Judéia, na Galileia, na Samaria e nos ambientes pagãos.

O cristianismo vai, assim, assumindo sua fé. Inicialmente, a confissão se deu em torno do Cristo da Cruz e da Ressurreição. Aos poucos, as comunidades foram construindo hinos, entre os quais o do Senhorio de Cristo (que é pré-paulino e está em Fl 2, 6-11); aquele no qual os cristãos primitivos glorificavam a Cristo como Senhor (cf. Cl 3,16-17; 1Cr 14, 16-17).

Merece destaque a tradição litúrgica, que não eram padrão. A celebração da ceia do Senhor era determinada pela tradição da última ceia de Jesus; outro momento litúrgico era o do batismo; além das celebrações de louvores a Deus.

Havia também a tradição parenética (admoestação), que era influenciada pela sabedoria do AT e da ética helenística. Ela exigia uma postura comportamental: existiam catálogos de virtudes (Gl 5, 19-23), normas de vida doméstica, correto comportamento no mundo (cf. 1Ts 4, 1-12), deveres para os que desempenham cargos, instruções para o ensino na comunidade. Só depois desses momentos é que surgem os evangelhos, que vão assumindo gêneros literários próprios (estilo epifânico e apocalíptico).

Gêneros literários

a) Relatos de vocações: narrativas breves com modelos de comportamentos a ser seguido (cf. Mt 9,9; Mc 1,16-18). Isso se estrutura com Jesus que passa, , chama pelo nome ao vocacionado em seu cotidiano, este o obedece deixando tudo.

b) Relato dos Milagres: podem ser de curas, intervenções na natureza, expulsão de demônios. Seguem o seguinte esquema: introdução, apresentação ou situação; súplica de quem necessita e confiança; intervenção de Jesus com palavras breves ou gestos; efeito da intervenção – normalmente imediato; e a reação dos espectadores: temor, admiração etc.

c) Relato das Parábolas: uma forma de expor ou defender um pensamento. Jesus usa-as para exprimir o Reino em seu cunho escatológico, no apelo à conversão, nos conflitos com os fariseus. As parábolas foram pronunciadas numa situação concreta da vida (de conflito, justificação, defesa). A parábola é diferente da alegoria.

d) Relato das Sentenças encaixadas: palavras de Jesus inseridas num relato. Trata-se de palavras “flutuantes”. Elas foram ditas em determinados contextos, mas normalmente é desconsiderado.

e) Relato das Controvérsias: surgem em contexto de confrontos e querem oferecer argumentos para que os primeiros cristãos possam se defender. Usam muito esse estilo de debate os fariseus, rabinos. (cf. Mc 12, 13-27; 35-37).

f) Relatos das Anunciações: mostram a missão a ser cumprida no seio do povo. Sua estrutura segue: cenários, personagens, enviado divino que saúda personagem, há admiração/temor, transmissão de mensagem, sinais e afastamento do enviado (Ex. narrativa de Maria);

g) Relato Midraxe: o sentido da palavra é procurar. A ideia é fazer pesquisa intensiva, esforço e vontade de encontrar. Pesquisar o sentido da Palavra de Deus. Os primeiros cristãos liam as escrituras de forma midráxica. Jesus faz isso no caminho de Emaús. Ele reinterpreta sua morte com os dois discípulos, dando-lhe novo sentido.

h) Relatos dos Ditos ou logia: tanto os isolados de Jesus e os integrais. Eles foram agrupados, depois inseridos num contexto temático. Há ditos sapienciais, proféticos e apocalípticos, de aprovação, ameaça, regras, leis, ênfase no Eu, ditos de morte, ditos da vinda do filho do homem, do seguimento etc.

i) Relato da Epifania: aparição ou manifestação de Javé. As personagens invadem-se por temor, sentimentos nobres por se encontrarem na presença de Deus (Ex. Transfiguração);

 

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Sival Soares, 29 de abril de 2011 




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