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Prisão de Jesus

Prisão de Jesus

A prisão de Jesus no horto (Mt 26,47-56; Mc 14,43-52; Lc 22,47-53).

Em primeiro lugar, segundo as narrativas bíblicas, Judas chega com uma multidão (armada, vinda da parte dos sacerdotes, escribas e anciãos). Mc e Mt falam diretamente a esses personagens, representantes do Templo de Jerusalém. Não há fariseus – obviamente porque eles estavam ligados muito mais ao povo do que ao Templo. Em segundo lugar, temos a prisão: a palavra é forte – apreender e pegar alguém que cometeu algum delito. Trata-se de uma expressão ligada à violência. Lc não fala que Jesus foi preso. Apresenta o beijo de Judas etc. Em terceiro lugar, ao ser preso, os presentes reagem. A reação é de violência (principalmente em Mc e Mt), o que indica que o grupo de Jesus não é tão pacífico assim. Pedro decepa a orelha de um soldado. Por fim, Jesus reage (principalmente em Mt e Lc), contesta os atos de violência. Isso porque em Mt Jesus é o mestre, diz “guarda tua espada no teu lugar”. Argumenta a necessidade de cumprir as Escrituras. Ora, em Mt Jesus sempre fala com os judeus. Por isso, usa das Escrituras para se fundamentar. Em Lc, Jesus cura a orelha daquele que foi decepado. Na teologia de Lucas, vemos presente a dimensão da misericórdia, manifestada até nos inimigos.

Quando Jesus é preso, reflete: “serei eu o ladrão?”. Ou seja, questiona a prática dos enviados do Templo (aparece em Mc, Mt e Lc). Jesus confronta. Denuncia que eles não o prenderam quando estava no Templo, junto das multidões, mas às escondidas, como ladrão. Para Jesus, o ator (Judas e os enviados do Templo são personagens secundários) principal é o próprio Deus, que acompanha Jesus. O Cristo é o Justo. Fica claro na impiedade da sociedade que não suporta o Justo. A luz de Deus desmascara os ímpios.

Julgamento de Jesus (Mc 14,53-65; Mt 25, 57-68; Lc 22, 54.63-71).

Vejamos a estrutura desses textos que narram o julgamento de Jesus no Sinédrio. Primeiramente, ele é conduzido aos chefes dos sacerdotes (os mais altos na hierarquia. Existiam o Sumo Sacerdote, os sacerdotes que administravam o Templo, e outros cuidavam da economia. Cada um desses responsáveis tem um grupo pequeno que lhes assessora), anciãos (leigos ricos, proprietários de grandes terras) e escribas (doutores especialistas em leis). A cúpula do judaísmo juga Jesus. Eles formam o Sinédrio (centro judiciário no mundo de Israel). Em Lucas Pedro acompanha de longe. Num segundo momento, procuram uma testemunha contra Jesus (principalmente em Mc e Mt), em seguida, interrogam-no. Cabe a pergunta: Jesus está sendo julgado ou já está condenado? Obviamente, já havia sido decida a sentença de Jesus. Alguém, uma testemunha sem nome, diz que Jesus falou que destruirá o Templo e o reconstruirá (em três dias, não por mãos humanas...) posteriormente. Com esse testemunho, em terceiro lugar, ocorre de fato a interrogação de Jesus. Seu silêncio incomoda as autoridades. Apresenta sua maior dignidade: a melhor resposta à injustiça é o silêncio. Novamente, o sumo sacerdote interroga Jesus sobre quem ele é. Desta vez, tendo as autoridades induzido e reconhecido Jesus como messias, Jesus responde “Eu Sou”... “Vereis o Filho do Homem, sentado no Trono a Direita de Deus, vindo sobre as nuvens”. No fundo afirma que agora está sendo julgado, mas ele será o juiz. A autoridade verdadeira, diante de Deus, é Jesus. Por fim, o sumo sacerdote rasga a veste, acusa Jesus de blasfemador, de que ele próprio se condenou. Pergunta aos outros membros do Sinédrio qual será sua sentença e declaram: será réu de morte. Segue-se a seção de tortura (cuspir, bater, zombar...).

Evidências: o julgamento de Jesus foi uma farsa. Na narrativa de Lucas, não há o tema das falsas testemunhas. Ademais, a seção de tortura nesse evangelista é no início (cf. Lc 22,63). Mc e Mt trazem o julgamento à noite, ao passo de Lc o colocar pela manhã.

Historicamente, era proibida seção de tortura no Sinédrio. Deviam-se ter testemunhas a favor e contra os réus. Não se sentenciava na hora. Devia-se ter um julgamento num dia, e a sentença no outro. Nota-se que o relato tem caráter querigmático e teológico; não se trata de relatos históricos.

Há duas cenas; a seção de Pedro e a de Jesus como justo sofredor. Esses dois predicados são a temática da cena central. Há um contraste entre Pedro que se aquece e o Sinédrio que desejava encontrar uma testemunha de acusação. Contraste também entre Jesus que silencia e o sumo sacerdote que o havia interrogado. Depois quando precisa responder, amplia sua resposta, corrige o sumo sacerdote. Os verbos dominantes são dizer, testemunhar, interrogar, julgar... Quem livra os juízes do embargo é o próprio Jesus que declara sua verdade demonstrando que sua morte é livre e consciente. Cumpre perguntar: há conteúdos teológicos ou históricos no relato?

Houve quatro etapas do julgamento: a) busca sutil de um testemunho contra Jesus; b) declaração explicita de falso testemunho; c) interrogatório de Jesus (pergunta do sumo sacerdote e o silêncio de Jesus, a segunda pergunta e a pergunta á assembleia) d) juízo e condenação.

A acusação principal contra Jesus, superficialmente, é o fato de Jesus ter dito que destruiria o Templo. Depois entra, sutilmente, a questão messiânica. Em Mc, a condenação de Jesus pelo Sinédrio foi por sua acusação messiânica, a ponto de ser considerada blasfêmia. Ora, Jesus é condenado por um crime religioso... em Pilatos será outro ordenamento. Jesus se coloca acima da lei, do templo e de toda organização social.  Colocou-se contra o ordenamento judaico. Dai o caráter político de sua ação. Ele era um perigo de subversão social e política – e isso alarmou as autoridades político-religiosas. Jesus, aparecido como servo sofredor (cf. Is 42, 1-9; 49, 1-7; 50,4-11; 52,13-53,12), comprova que cumpre as Escrituras.

Síntese

Fechamos o ciclo dos evangelhos. Se a atividade de Jesus, praticamente em todos os sinóticos, começa no batismo, onde o Espírito diz que Jesus é o filho amado, nesta reta final, o Filho é o servo sofredor. Esse servo foi escolhido para ser luz das nações, passar pelo sofrimento, morrer e... ressuscitar. Na introdução do evangelho já aparece esse imagem de Jesus. Por outro lado, as narrativas da paixão estão diretamente associada ao justo, servo sofredor. Há um resgate das Escrituras. Jesus resgata todo o primeiro Testamento para mostrar que Ele é o evangelho de Deus: assume, por ter sido escolhido, o Espírito de Deus e O revela com a vida (e julgamento). Jesus julga, no seu itinerário, as estruturas da sociedade. Por isso incomoda. Seu julgamento é de quem é luz. A verdade é revelada. Para isso, não é necessária a violência: basta-lhe seu modo de ser.

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Sival Soares, em 29 de abril de 2011 




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