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Sinais do Reino em Mc

Sinais do Reino em Mc

O Reino como satisfaça econômica: o alimento no deserto (Mc 6, 33-44)

O Reino de Deus tem uma dimensão econômica. Pelo menos do ponto de vista dos seus sinais. A distribuição dos pães às massas judaicas demonstra a economia da partilha. Há duas narrativas da multiplicação dos pães. Uma para os judeus, outra para os gentios. O contexto da narração lembra o êxodo, onde o povo passa pela necessidade quando sai do Egito. Coincidentemente, há deserto na narrativa.

Jesus se compadece da multidão. O rebanho sem pastor significa um exército sem general, uma nação sem líder nacional. Isso acontece no deserto (cf. Nm 27, 16-17). Em Zc 11, 4-17 temos o fato de se comprar ovelhas e matarem sem serem castigados. Aqui temos uma crítica à economia política da Palestina. Ez 34 também relata as parábolas dos pastores.

O triunfo da economia da partilha

Vejamos duas dimensões: a economia do comercio e a da partilha. Ora, os discípulos nessa narrativa pedem para que Jesus dispense a multidão porque não se tem dinheiro para alimentar a multidão. Há duas lógicas: a dos discípulos, de caráter econômico. E a de Jesus quando diz para que eles deem de comer. Ora, o lugar onde a economia do comércio acontece é o deserto. A lógica é a da compra e do salário (200 denários...) e quem não tem dinheiro deve ser despedido. Essa é a proposta dos discípulos: despedir as multidões. Jesus, na economia da partilha, sugere que deem de comer. Só há 5 pães e dois peixes. O número da soma é 7, a perfeição. Ora, Jesus percebe isso e organiza os consumidores em grupo. Jesus pede para que o povo sente-se. Ora, aqui temos uma evocação à dignidade da pessoa que senta à mesa. Abençoa os pães e dá para que os discípulos distribuam ao povo. Abençoar, significa dizer que o pão pertence a todos. Jesus resgata a tradição de Israel. Todos comem, ficam saciados e ainda sobram cinco cestos. A lógica da partilha vence a do comércio.

Em Mc 8, 1-9 Jesus alimenta as massas pagãs. Jesus sente compaixão: dor nas entranhas. Ser profundamente atingido pelo outro. Marcos caracteriza os gentios como se fossem os pobres dispersos de Israel (Sl 107). A reação dos discípulos é de desespero: como alimentar a multidão no deserto? Jesus rejeita a piedade do jejum em favor da prática de ir ao encontro das necessidades reais.

Multidão

A multidão está faminta de comida e de mensagem. Jesus dirige-se a ela para que se recostem no chão como pessoas livres. A missão da comunidade é servir: distribuir o que receberam. A multidão, com alimento, sacia-se te tem a plenitude da vida. A multidão não precisa integrar-se ao povo judeu. Elas voltam para suas casas. Aqui temos a evocação da mensagem universal de Jesus.

A oposição gerada pela pregação do Reino provoca três rejeições: a) a Jesus, pela sua cidade natal (Mc 6, 1-6); b) aos apóstolos, pelas famílias que não quiseram hospedá-los (6,11); c) a João Batista, pelo fermento de Herodes (6, 14-29). Os fariseus haviam já se referido à pureza e impureza dos alimentos (Mc 7, 1-23; 8, 11-21).

Os fariseus pediam sinais do céu. Jesus acabara de realizar o sinal dos pães. Eles defendiam os atos de pureza. Jesus, por sua vez, desafia as tradições. Exorta a compreender e escutar (7, 15) que a pureza vem do coração (7,21).

Crise confessional (Mc 8, 27-33)

Em todo o evangelho Jesus prega o anúncio do Reino. Através dos milagres, mostra, sinaliza por onde passa o Reino: exorcismo do mal (demônio), devolve a dignidade aos doentes (leprosos, paralíticos) reintegra a mulher em sua dignidade (sogra de Pedro, hemorroisa), cura pessoas (caminhar com as próprias pernas, tomar o centro do lugar com o homem de mão seca), multiplica pães etc. Existem muitos sinais que revelam o Reino. Entre eles, como vimos, há o ato de saciar a fome das multidões. Jesus também ensina. Tudo isso acontece no cotidiano dos que conviviam com Jesus; Diante desse anúncio, qual a reação? Há, como se sabe, incompreensões (por parte dos familiares, conterrâneos que pensam que ele estava louco, das autoridades religiosas e também dos próprios discípulos) e confrontos (que evocam o questionamento da autoridade de Jesus).

Em Mc 8, 27-33 ocorre um questionamento de Jesus: quem dizem os homens que Eu sou? Os discípulos dizem que acham que são Elias, João ou algum dos profetas. Pedro confessa ser Ele o messias. Aqui tem início a 2ª parte do evangelho de Marcos. Note-se que o prólogo do Evangelho começa falando de caminho (Mc 1,2-3). Nesta segunda parte o caminho é para Jerusalém (8, 27). Este prólogo é um catecismo de dialogo e instrução que se refere a não violência como estilo de vida. Ensinar, no entender de Jesus, é um verbo chave porque à medida que esse caminho se torna claro, aumenta a tensão.

Jesus pergunta o que pensam dele. O drama de sua identidade encontra-se situado nos relatos de surdez, mudez e cegueira (cf. 7, 31-37; 8 22-26; 9, 14-29; 10,45-52). As curas funcionam para encorajar o leitor a continuar. Elas preparam a promessa da ressurreição. Afirma, simbolicamente, o ressurgimento para a vida do menino, por exemplo, oprimido pelo demônio (cf. 9, 26).

A confissão de Pedro

Jesus substitui a confissão de messias por filho do homem. Este deve sofrer. A missão passa pelo sofrimento. Ele é necessário para fortalecer os fieis em tempos difíceis. Faz parte do drama escatológico. O Filho do Homem também vai ser rejeitado, o que significa ser concluído depois de um teste. Os novos adversários (anciãos e chefes dos sacerdotes estão ligados ao já estabelecido). Aqui temos a guerra dos mitos. Há a luta pelos poderes: de Jesus e seu reino de um lado, e do Tempo do outro. Nesse ínterim haverá implicações política.

Em Mc 8, 34-38 percebemos Pedro dizer que Jesus é o messias; Jesus diz que o filho do homem vai sofrer; Pedro diz que não deve ser assim; Jesus acusa-o de ser satanás. Nesse diálogo, vemos a dura oposição entre a autoridade humana e divina. Quem deseja seguir Jesus deve: negar-se a si mesmo, tomar sua cruz, seguir.

A crucifixão era um castigo político e militar – símbolo da vergonha do condenado. Negar-se a si mesmo está dentro de um contexto de tribunal. Trata-se de apelo, similar à descrita em Mc 13, 9-13. Os discípulos têm que optar entre confessar Jesus ou negá-lo. Renunciar significa oferecer sua própria vida. Há, pois, em seguida um paradoxo: a vida é salva quando se consente perde-la.

Jesus transfigurado (Mc 9, 2-13)

Depois dessa confissão de Pedro, em Mc 9, 2-8 Jesus faz um momento apocalíptico. Jesus se transfigura.  É um ensinamento pós-pascal. Jesus morreu e Já ressuscitou. Recordemos a tradição. Daniel 10, 5-6 já falava de um homem vestido de linho. A aparição da nuvem e o lugar montanhoso lembram Moisés e o Sinai (Ex 24, 15-18). As vestes brancas (cf. Dn 7,9; 10,8) na linguagem apocalíptica simboliza a roupa dos mártires (cf. Dn 16,5). A aparição de Moisés e Elias dá credibilidade aos ensinamentos de Jesus. A cruz situa-se, agora, ao lado da Lei e dos Profetas. A voz do Pai “escutai-o” indica a nova revelação transmitida pelo ensinamento de Jesus sobre a cruz. Não é por acaso que esse texto encontra-se após o relato de que o Filho do homem vai ser morto. Esta cena faz, obviamente, alusão ao batismo de Jesus.

Depois vem o segundo relato da sua paixão (Mc 9, 30-37). Os discípulos não compreendem bem. Mas, nesse mesmo bloco Jesus diz que o reino de Deus é dos menores. Chama uma criança para ser símbolo do Reino. Ser menor é a norma. Alerta também para a dificuldade de um rico (cf. 10,13) entrar no Reino.

O terceiro anúncio da paixão vem em Mc 10, 32.  Jesus anuncia de novo. Tiago e João querem sentar-se à direita e esquerda de Jesus. Cristo diz que isso não compete a ele. No fundo, fala sobre a autoridade e o poder. Se no mundo os grandes oprimem e dizimam as nações, entre os discípulos não pode ser assim. A lógica de Jesus é a do serviço.

No primeiro relato temos a opção fundamental, na segunda vemos os critérios ideológicos e econômicos para o seguimento, no último relato da paixão indica a relação com o poder político e o tema da opressão.

Jesus começa seu caminho atravessando a Galileia em direção a Jerusalém. Ele próprio diz que vai ser entregue, sofrer, morrer e ressuscitar.

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Sival Soares, em 29 de abril de 2011 




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