Criar uma Loja Virtual Grátis

Profecia Popular

Profecia Popular

Profecia à Margem

A profecia de adivinhação e de consulta, aos poucos vai ser excluída da sociedade em Israel. Por outro lado, ela caminhou nos trilhos da margem. Dai o fato de haver uma profecia marginal. Ela ficou marginalizada, excluída porque a função da profecia foi institucionalizada. A profecia foi incluída na atividade sagrada. A profecia da corte ou do Palácio emerge assim. Houve um tempo em que a profecia da corte esteve atrelada à magia e ao conselho. O profeta também era ministro, com o qual o Rei se consultava antes de tomar suas decisões. O nome bíblico para a cambada de general, sacerdotes, juízes, magos, profetas etc. chamam-se, em hebraico, sarim. Na verdade, o termo significa príncipes. Aquilo que era uma prática popular (profecia de adivinhação, magia e consulta) vai para a margem; em seu lugar, surge, por cooptação, a atividade profética institucionalizada no Templo. Na corte, o profeta fala aquilo que o Rei quer ouvir; o que ele gosta.

Por outro lado, a profecia que ficou á margem, caminhará no subterrâneo da história. Por isso alguns profetas da base irão entrar em combate com os falsos profetas da corte. Em 1Rs 22 temos a discrição de uma guerra, um confronto militar. Nessa hora, obviamente, um Rei precisa de conselho. Dai a equipe de consulta, de profetas a ele ligados. O confronto desse texto bíblico denota que Israel entra em guerra contra a Síria. Acar, de Israel, está em guerra com o Rei assírio. Quando se percebe que o exercito não vai dá conta, convoca-se mais gente. Acar vai propor aliança com o Rei de Judá, que na época era Josafá (cf. 1Rs 22, 1s). O confronto com a Assíria tinha a ver com o território de Galaad. A proposta é tomar esse território para pertencer a Judá e a Israel. Portanto, o interesse é de controle e ampliação territorial. Sobretudo porque essa região era de rota comercial. O interesse é de cunho político-econômico.

Os Profetas da Profecia Popular

Acar e Josafá procuram selar uma aliança militar (cavalo é símbolo do exército). A aliança é também econômica e política. Josafá pede para que Acar consulte Javé (cf. v5). Entram em cena os profetas (400 profetas conselheiros do Rei).  Após consultarem Javé, o resultado é positivo. Inicia a guerriação.,! O resultado da consulta é a certeza antecipada da vitória. Mas... Josafá (cf. v7) pergunta se não há outro profeta de Javé para consultar. O profeta que Josafá quer não está no número dos 400. Aqui entra Miquéias de Jamla. Ele se opõe aos 400 profetas da corte. Miqueias deriva, etimologicamente, de mika, que é uma junção de duas preposições: mim (de) e quê (com). Miqueias significa quem como Javé.

Josafá sugere que Acar procure Miqua (Miqueias), aquele que Acar o odeia porque jamais profetizava o bem para ele (v8). O profeta que não fala bem sobre o Rei tem um destino comum: morte. Assim acontecerá com Miqueias. Antes, porém, ele é consultado e induzido, por outros profetas ligados ao Rei, a profetizar a favor do ataque a Galaad. Miqueias, avisa que vai anunciar somente o que Javé mandar dizer. Diante do Rei, Miqueias diz ao Rei que vai ser bem sucedido (v15). O detalhe do texto é esse: Miqueias ironiza o fato e envia, na verdade, o Rei à morte. Há uma diferença entre a palavra de Miqueias e a dos outros profetas – apesar de ser a mesma palavra. Obviamente, trata-se de um verdadeiro profeta.

Porta-voz de Javé

No v16 temos a contraposição do Rei que insiste que Miqueias diga a verdade. A resposta desse profeta é carregada de ironia. Para o Rei, a resposta de Miqueias é uma grande mentira. Só que esse profeta afirma que a verdadeira mentira está com os profetas, os 400 (v17-19). Esse versículo é poético, representa o diferencial do texto. Afirma que a palavra de Javé é contra a guerra. Aqui temos o teor profético do texto. Evidentemente, a construção da narrativa é deuteronomista. Mas a grade palavra (típica da profecia) de Miqueias está a partir do versículo 19. Sugere que Israel escute (shemá) a Palavra de Javé e não entre em guerra, e que alguém quer enganar Acab quando o sugerem a guerra. Diz que Javé quer a desgraça de Acab, anuncia Miqueias (cf. vs22-23). A ironia está na visão celestial que Miqueias diz ter tido (v19). Avisa que o espírito de mentira foi infundido na boca de todos os profetas – inclusive Miqueias, que se inclui numa esperteza genial. Por essa profecia, Miqueias é esbofeteado por Sedecias (v25). O verdadeiro profeta será preso, conduzido ao governador da cidade, alimentado por pão e água... (no texto hebraico diz que Miqueias irá ser alimentado com pão de aflição e água de opressão. Sobre isso, cf. v26). As imagens são teológicas: os grandes problemas de uma guerra são a falta de água e de pão. Nesta época, a prisão ficava na casa dos filhos do Rei (eram muitos, porque era título atribuído aos chefes militares). Lá os prisioneiros de guerra sofriam sem pão e água. Joaz será o carcereiro de Miqueias. A prisão era um poço (preferencialmente com muita lama) bem largo, onde a pessoa ficava lá presa. Miqueias é jogado no poço porque se opôs ao regime. Irá morrer. Mas também Acar morre (v37).

Os conselhos dos profetas ligados ao Palácio sempre estão ligados à guerra e às doenças. Têm a ver com cura, diagnósticos de situações, estratégias etc. O problema é que os profetas pertencentes ao povo, aqueles da margem, nunca diagnosticam a favor do Rei.

_______________________________________
Sival Soares, em 29 de abril de 2011 




Num espaço aberto,

de discussão teológica, com artigos,

pensamentos, orações e estudos livres.

Esse é um espaço de pesquisa,

feito para você utilizar com sabor e saber.

A idéia é favorecer o estudo, a análise e

a crítica teológica.

Fique à vontade em sua pesquisa.

Nos links você encontra

por ordem numérica de postagem, artigos,

pensamentos, orações estudos e galeria de arte.




Total de visitas: 53359